sábado, 26 de junho de 2010
Lembranças do meu mar
O artista plástico Nestor Jr. expõe 15 quadros na exposição Lembranças do Meu Mar, no Círculo Ítalo-brasileiro. As obras remetem à infância do artista, com quadros que lembram o mar e a cultura da população das pequenas cidades do litoral catarinense. Visitação de seg a sexta, das 14h às 18h, até 27 de junho. Informações: (48) 3223-6854.
Casa d'Agronômica será espaço cultural
O projeto de transformação da Casa D’a Agronômica em espaço cultural deu um passo importante nas últimas semanas. Arquitetos, gestores de cultura, museólogos e historiadores tem 60 dias para entregar um plano museológico para o local. A idéia é que a atual residência oficial do governador abrigue um jardim botânico e um centro cultural, que utilize o mobiliário, as telas, os objetos de decoração e os livros da biblioteca.
Entre as especificidades do projeto está a discussão e o aprofundamento do conceito de ocupação do espaço. Segundo o presidente do Conselho Estadual de Cultura, Edson Machado, a referência para o destino da Casa D’Agronômica é o Museu da Língua Portuguesa, sediado na Estação da Luz em São Paulo.
Em reunião ocorrida em abril, o secretário de Estado do Planejamento, Vinícius Lummertz, avisou que profissionais ligados à cultura de São Paulo e Minas gerais serão consultados para ajudar na elaboração do projeto. “Será um local voltado para as artes de forma interativa para a população”, afirma Lummertz.
Sobre o acervo próprio da casa, que reflete gosto e peculiaridades de 15 governadores e suas famílias que lá residiram, se “discute a criação de um parque internacional de esculturas, com acervo próprio”, acrescenta Machado.
Quando aberto o novo espaço cultural, estão previstas exposições temáticas do acervo, apresentações de música erudita e popular, mostra de artes e dança contemporânea, exibições de vídeos, lançamentos de livros, parque com esculturas ao ar livre e passeio pelo jardim.
História
Localizada numa área de 50 mil metros quadrados na avenida Beira-mar Norte, a casa possui um estilo eclético eclético luso-brasileiro, com característica do colonial espanhol. Sua construção durou de 1952 até 1955, quando foi inaugurada pelo Governador Irineu Bornhausen como residência oficial.
O palácio, anteriormente conhecida como Palácio Estadual D’Agronômica, abriga no jardim espécimes de figueira, pau-brasil, pinus, eucalipto e coqueiro numa área revestida de gramado e cercada por muros de pedra bruta.
Crítica
O que estraga o adultério é ser clandestino
Nos idos de 1920, tempo em que o amor, o casamento e a honra eram defendidos com a morte, Nelson Rodrigues transformou suas experiências de vida em milhares de contos publicados na coluna A vida como ela é. Alguns desses contos acabam de ganhar adaptação da Cia Teatro Sim... Por Que Não?!!!, que no mês de julho faz temporada no Teatro da UFSC.
Fiel ao texto, com sobressaltos ao cômico das histórias, o diretor e adaptador, Luís Artur Nunes criou um espetáculo memorável, mas que não esconde a morbidez das tragédias contadas por Nelson. Como o caso da esposa que prefere morrer para não sucumbir ao adultério ou do menino criado sob as regalias de mulheres que no dia do casamento se enforca vestido de noiva.
O confronto visível é entre os complexos femininos, para o autor existente, e as leis da rudeza masculina, que se não é visto como trágico, diverte muito. Como o tio que aconselha o sobrinho a matar a mulher para não levar um cuspir na cara.
A peça transcorre sob iluminação excelente e sombras adequadas as expressões, com canções de Eliseth Cardoso e Dolores Duran. Entre os seis atores, que muitas vezes se revezam no mesmo personagem, se destacam Valdir Silva e Berna Sant’Anna, pela interpretação pontuada
Carriego em português
No começo do século XX o arredor de Buenos Aires vivia uma explosão demográfica, coma chegada maciça de imigrantes, áreas do subúrbio cresciam rapidamente numa das primeiras concentrações urbana das Américas. Em um dos bairros mais pobres, Palermo, dizem historiadores, nasceu o tango na mesma época em que foi morada, de sua curta existência em vida, do poeta Evaristo Carriego, que se fixou na sociedade argentina como o primeiro a representar o que ficou conhecido como “arrabal” portenho.
Embora o poeta tenha seu nome cravado neste espaço, um dos mais densos e ricos da América, só comparável ao “velho oeste norte-americano” ou o “sertão brasileiro”, que é arrabal portenho; pouco se sabe dele fora da Argentina, quando não sua poesia é vinculada exclusivamente a obra de Jorge Luiz Borges.
Carriego deu em seu livro Misas Herejes, e depois, postumamente, na Canción del bairro, toda a dor do bairro pobre, contemplado e vivido por ele. Poemas que falam da vida cotidiana, do dia-a-dia, que constituem reunidos, quase que uma peça teatral, a visão afetiva e sentimental da vida. Uma perspectiva lírica dotada de um realismo sentimental.
Pela primeira vez, 11 poemas de Carriego estão sendo lançados em português pela Editora da UFSC, sob o título de Poesia Herege, numa homenagem aos 100 anos de publicação do original em 1908. O livro, com tradução e organização de Cláudio Cruz e Liliana Reales, tenta desmistificar a ligação entre Borges e o poeta, surgida a partir da publicação, por Borges, do livro que leva o mesmo nome de Carriego, e que, até hoje, continua sendo a principal fonte de conhecimento desse fora da Argentina.
Carriego por Borges
Alguns falam que Borges, cujo pai era amigo do poeta e a mãe pouco simpatizava, inventou Carriego ao seu uso modo, dando-lhe um contexto mais político a sua visão. Como bem fica evidente no prólogo de Evaristo Carriego, de 1930, em que Borges pergunta “como se produziram os textos, como pode esse podre rapaz Carriego chegar a ser o que agora será pra sempre?”. Atribuindo visão ficcionalizada de “jovem, orgulhoso, tímido e pobre” na resposta a pergunta, como bem observou Liliana Reales em artigo que acompanha Poesia Herege.
Em sua singularidade de homem literário, é visível o culto de Borges ao drama social, em que representantes da baixa cultura do arrabalde, como o compadrito e o gaúcho da fronteira, ganham significado dentro da construção econômica e social da época em que Carriego se firmou como representante.
Esse culto se firma em momentos melodramáticos, principalmente do livro póstumo Canción del bairro, de 1912; em que o poeta se choca com o progresso que empurra os casarios pobres de Palermo. Borges diz que no livro Carriego apela para solene para a piedade do leitor com certo gosto pelas desgraças cotidianas e da pobreza, mas também uma afinação de ternura.
Para Cláudio Cruz a idéia de que Borges construiu Carriego é “rídicula”, por confundir personagem com pessoa real. “Ele foi o criador literário desse símbolo tão forte que é o arrabal portenho, e não só aquele que ficou conhecido como o compadrito, único motivo da atenção de Borges em relação à poesia de Carriego. Neste sentido, sim, Borges inventou Carriego”.
História
Carriego viveu boa parte de sua vida na Rua Honduras em Palermo, pra onde se mudou em 1897. Em 1990 começa a colaborar com artigos no jornal La Protesta, com seu amigo Alberto Ghiraldo, com quem compartia ideais anarquistas. Colaborou também com a revista Caras e Caretas e Nosotros. Morreu em 1912, vítima de tuberculose aos 29 anos.
Entrevista com Cláudio Cruz
Num trabalho de tradução uma das dificuldades é a escolha das palavras exatas que darão o mesmo sentido que o autor pretendia. Em Poesia herege como foi o trabalho e qual as dificuldades ?
Para a concepção moderna de tradução não existe a menor possibilidade da “palavra exata”, mais ainda em se tratando de poesia, que utiliza recursos como metrificação, rimas etc... Sem contar o ritmo, fundamental, por definição, em qualquer tipo de poesia. Além disso, hoje se sabe que o problema da tradução não se restringe apenas ao fator linguístico puro, mas existe num âmbito cultural mais amplo. Em termos simples, quem traduz não traduz apenas de uma língua para outra, mas de uma cultura para outra, ou seja, junto com o texto vem – deve vir – o contexto.
Assim, além das dificuldades normais que todo tradutor de poesia deve enfrentar, ou seja, de manter na língua de chegada a maior parte dos recursos formais utilizados pelo poeta na língua de partida, foi necessário transportar para o leitor brasileiro toda aquela atmosfera tão própria da Buenos Aires em torno de 1900, em especial do bairro de Palermo, que Carriego estabeleceu como sua referência fundamental Carriego. Lá residiu , a maior parte de sua curta vida , sempre na mesma residência da rua Honduras, que hoje sedia a Casa de Evaristo Carriego.
Pois bem, esse bairro era muito, mas muito diferente do atual e cosmopolita bairro de Palermo, hoje totalmente fashion. Pelo contrário, tratava-se de uma zona periférica da cidade, de gente em sua maioria pobre, constituindo um dos mais tradicionais arrabaldes portenhos, lugares onde, segundo muitos historiadores, nasceu o tango.
Carriego foi, como dizia Borges, o “inventor” desse espaço, o que primeiro lhe deu vida e estatuto literário e artístico. Daí a sua importância não só para a cultura argentina mas para toda a cultura das Américas. Com o tempo, e muito em função do tango, esse espaço do arrabal portenho veio a se constituir como um dos seus mais importantes espaços míticos, só igualado por alguns poucos como o “velho oeste norte-americano” e o “sertão brasileiro”.
Embora não possa me considerar um especialista desse ambiente portenho, o ano que passei em Buenos Aires quando do meu pós-doutoramento, foi fundamental para encarar essa empreitada de traduzir Carriego. Seja como for, com mais ou menos conhecimento da língua e da cultura que se quer traduzir, sempre encontramos termos e expressões que resistem a uma tradução, já que fazem parte de maneira muito profunda e única àquele espaço cultural.
Só para dar um exemplo, lembro a palavra compadrito, que em geral traduzimos por valentão, o que está longe de cobrir toda a gama de significados que a palavra detém naquele espaço e, principalmente, naquela época. Sem dúvida que o compadrito, figura central do arrabal portenho, necessita ser valente, mas essa é apenas uma das muitas características que o compõem.
E nem todos são “valentões” no sentido que damos para a palavra em português. Aliás, os mais famosos, aqueles que incendiavam a imaginação de Borges e de muitos outros criadores, preferiam não brigar, salvo se encontrassem pela frente um rival que considerassem a sua altura. Daí passava a valer a pena.
De onde surgiu a idéia de traduzir Evaristo Carriego?
O escritor Ítalo Calvino dizia que a melhor forma de ler um texto é traduzi-lo. Não sei se é a melhor, mas seguramente é uma das melhores. Isso porque com a tradução devemos estabelecer, necessariamente, uma aproximação e um cuidado com o texto que normalmente não teríamos.
Tudo isso pra dizer que o motivo pelo qual eu resolvi traduzir Carriego foi, provavelmente, a vontade de conhecer sua poesia melhor, mais intimamente. Um segundo motivo foi o desejo de vê-lo inserido na cultura brasileira de uma forma mais independente de Borges. Devemos ao autor de Ficciones o conhecimento de Carriego fora da Argentina, principalmente porque Borges dedicou a ele nada mais nada menos do que um livro inteiro que, aliás, se chama Evaristo Carriego, publicado em 1930.
Esse livro, mesmo considerando-se uma obra tão cheia de grandes textos como é a de Borges, mereceria ter mais destaque. Mesmo na Argentina ele parece não ser levado na devida conta, embora nos últimos anos isso possa estar mudando, já que cresce o interesse pela primeira fase de Borges, aquela que se desenvolve ao longo da década de 1920. E que terá o seu ápice, podemos dizer, nessa sua biografia sobre Carriego, publicada justamente em 1930, encerrando a fase que muitos chamam de “juvenil”. Nem tão juvenil assim, já que Borges nasceu em 1899.
Mas sem dúvida que encerra todo um período de buscas e inquietações por parte daquele jovem escritor que, mesmo sem deixar de ser cosmopolita, como sempre foi, dada a sua formação familiar, valorizava muito, nessa época, o que hoje chamamos de “local”, mas que então respondia mais pela palavra “nacional”. Como se sabe, posteriormente, Borges mudará muito em relação a essa perspectiva primeira adotada por ele, mas a verdade é que nunca a abandonará de todo.
Os temas locais, nacionais, o acompanharão por toda a sua vida, mesmo naquelas fases em que a Europa, como dizemos no Brasil, se curvou ante sua obra e ele, gostosamente, passou a defender valores mais cosmopolitas. Traduzir Carriego faz parte de um projeto que busca revalorizar a obra inicial de Borges, esse Borges criollo, para lembrar o livro de Beatriz Sarlo, crítica argentina que, acredito, abriu toda essa vertente investigativa. Mas a minha intenção vai um pouco além, pretendendo trazer para o Brasil um Carriego mais independente do próprio Borges.
Como disse antes, a ele devemos o conhecimento de Carriego fora da Argentina, mas por outro lado acredito que esse “cantor do arrabalde portenho”, como ficou conhecido, merece ser conhecido por sua própria poesia – que é muito vigorosa em seus melhores momentos – independente do uso que dela fez o seu genial conterrâneo.
O autor, embora não seja muito conhecido no Brasil, na argentina qual é o espaço que ele ocupa?
A posição que ele ocupa na Argentina é sui generis. Por um lado, quer dizer, pela chamada academia, a universidade, ele hoje é visto apenas como um poeta que detém uma importância do ponto de vista histórico, aquele apontado por Borges, de ter sido um inventor de um espaço social que até o seu aparecimento nas letras argentinas não tinha a sua voz.
Neste sentido ele é quase, ou totalmente, uma unanimidade. No entanto, essa mesma academia não o considera um poeta de primeira ordem, quer dizer, não seria um poeta atual, para ser lido e estudado hoje pelos seus valores intrínsecos, quer dizer, propriamente poéticos. Ou seja, consideram-no, em geral, um poeta menor. Ocorre que a realidade, se considerarmos a trajetória de sua poesia ao longo do século XX, contraria frontalmente essa perspectiva, remetendo o seu “caso” para o que hoje se chama de estudos da “recepção”.
Ou seja, uma coisa é o que as chamadas instâncias legitimadoras do literário (universidade, crítica, escolas etc...) dizem a respeito de uma obra, de um autor, outra é a presença dessa obra, desse autor, no corpo social, na cultura como um todo. E neste sentido Carriego foi um dos poetas mais vivos na Argentina, durante muito tempo, e por vários motivos. Saliento apenas dois.
Em primeiro lugar, ao contrário de alguns poetas de sua geração, tidos como “clássicos”, as edições de Carriego se sucederam, de forma regular, ao longo de todo o século XX. Ou seja, tudo leva a crer que foi um poeta efetivamente lido, num século em que, como se sabe, a poesia não parou de perder espaço no dia-a-dia das pessoas. O século termina com uma edição pela Corregidor, tradicional e respeitada editora argentina, da obra completa de Carriego, reunindo, além de suas duas obras poéticas, alguns contos, peças teatrais e poesias esparsas, juntamnte com uma seleção de comentários e críticas sobre a obra, fotos, gravuras, memórias familiares etc...
Também toda um série de informações sobre o processo de transformação da residência onde morou em Casa Evaristo Carriego. Nessa primeira década do século atual percebe-se uma certa queda no movimento editorial em torno a Carriego, mas evidentemente isso não diz respeito propriamente ao poeta, mas à cultura argentina em geral. A década começa com o pior momento da história Argentina nos últimos cem anos e, mesmo levando-se em conta a recuperação que se seguiu, é notório que a Argentina nunca mais foi a mesma, e eles são os primeiros a perceber isso.
O verdadeiro “banho de água fria” que caiu, e vem caindo, sobre as comemorações do Bi-Centenário da Independência é uma prova cabal disso. Quem, como eu, estudou o período em que a Argentina comemorou o seu primeiro Centenário, em 1910, percebe a enorme diferença entre essa data e a de agora. Sem dúvida nenhuma que 1910 foi o ápice da história Argentina, que chegou a ocupar um lugar “quase” ao lado das grandes potências da época, Inglaterra e França. Pelo menos os argentinos em geral pareciam convictos disso. Do ponto de vista cultural, Borges foi o mais alto fruto dessa época realmente esplendorosa do país vizinho, apesar de todas as ilusões que a acompanhavam, e que parecem estar cobrando a conta até agora, ou principalmente agora.
O lançamento original de Poesia Herege é datado de 1908, e pouco antes após sua morte precoce. O lançamento em português se deu em homenagem aos 100 anos de sua morte? Situar seu trabalho a um realismo sentimental, pouco lembrado hoje em dia, é correto, ou Carriego é mais amplo em suas poesias?
Sim, do ponto de vista estritamente editorial, o projeto de tradução foi apresentado à editora da UFSC em 2007 , no intuito de homenageá-lo no centenário de sua única obra publicada em vida, o livro Misas herejes. Motivos que não vêm aqui ao caso discutir não permitiram que a publicação saísse no devido tempo. Seja como for, inadvertidamente, acabou chegando a tempo das comemorações do citado Bi-Centenário.
O primeiro Centenário Carriego chegou a acompanhar ainda em vida, já que faleceu em 1912. Sem dúvida que Misas herejes é uma obra muito representativa desse momento da história da cultura argentina. Quanto ao título adotado por nós, Poesia hereje, foi uma idéia vinda da editora da UFSC, e que eu achei bem interessante, embora inicialmente eu temesse o risco que corríamos de parecer “propaganda enganosa”, já que não estávamos traduzindo todos os poemas do livro, mas apenas uma parcela deles, reunidos a alguns outros do segundo livro.
Mas vencido esse temor, percebi que, além de servir como uma espécie de homenagem àquela edição – aliás seguida do ponto de vista gráfico – do poeta, servia também para configurar o tipo de poesia feita por Carriego nestes tempos ditos pós-modernos.
Ou seja, poemas que falam da vida cotidiana, do dia-a-dia, daquilo que Antonio Candido costuma chamar de “vida ao rés-do-chão”, uma preocupação em representar as pessoas e suas relações, em poemas que constituem, reunidos, quase que uma peça teatral, a visão afetiva e sentimental da vida, enfim, tudo isso que vivemos na maior parte de nossas vidas e que a arte contemporânea, em grande parte, teima em desconsiderar, tudo isso faz com que a perspectiva lírica adotada por Carrego, que é exatamente esta, de um realismo sentimental, fique parecendo uma verdadeira heresia.
O curioso é que o sentido buscado por Carriego na época não tinha nada a ver com isso, e muito mais com um sentido baudelaireano, do então muito presente satanismo baudelaireano, que ainda encantava os poetas de então. E quanto à definição de realismo sentimental, que a princípio é correta, temos que tomar cuidado para não desfigurar o verdadeiro sentido da poesia de Carriego.
O sentimental nesse poeta, desde sempre, esteve sujeito a mal entendidos, que o rigoroso instrumental desenvolvido pela crítica ao longo do século XX pode ajudar a esclarecer. Carriego não era sentimental, no sentido em que utilizamos a palavra no português corrente, e sim muitos de seus personagens, como aliás costumam ser os latinos em geral. Mas isso só se percebe com um instrumental crítico mais refinado, disponível hoje.
Há pouco tempo escrevi para uma revista da USP um artigo comparando a poesia de Carriego com a do poeta português Cesário Verde, o que não deixa de ter um certo ar de heresia, já que Cesário é tido, hoje, como um cânone dos cânones da literatura moderna na área íbero-americana. Mas não me interessou compará-los nesse sentido, pouco me importando saber qual deles é poeta maior ou menor. Essas definições hoje soam no mínimo estranhas, num momento em que todos os valores, ou melhor, todas as medidas de valores estão sendo, com razão, questionadas.
O que me interessava era ver como os dois trabalhavam nesse registro ou nesse estilo realmente pouco utilizado, em geral, pelos poetas líricos, ou seja, o que se convencionou chamar de “realismo”, de buscar representar o “real”, no sentido da vida de todos os dias, em grande parte seguindo mesmo a escola que ficou justamente conhecida como Realismo, assim, com maiúscula, e que surge e se estabelece, principalmente, no final do século XIX.
Como foi a amizade de Evaristo com Jorge Luis Borges, e em que um influenciou o outro?
É preciso deixar claro uma coisa: Borges não influenciou em nada a Carriego, até porque quando ele morre Borges tinha 12 anos. Ele foi, na verdade, amigo do pai de Borges, e um pouco da família Borges, ainda que a mãe não simpatizasse muito com o autor de Misas herejes. Alguns falam que Carriego é uma “invenção” de Borges. Isso me parece levemente ridículo, é confundir personagem com pessoa real. Sem dúvida que Borges inventa um Carriego, principalmente no livro Evaristo Carriego. Mas como toda operação borgiana, ele o inventa para seu uso próprio.
Eu, particularmente, gosto dos dois Carriegos. Mas acho mais rico o Carriego real, pelo menos num sentido. Ele foi o criador literário desse símbolo tão forte que é o arrabal portenho, com uma variada e rica gama de personagens, e não só aquele que ficou conhecido como o compadrito, motivo de especial atenção, na verdade única, de Borges em relação à poesia de Carriego.
O compadrito borgiano é uma figura fascinante, sem dúvida, ao qual tenho me dedicado a pesquisar mais ou menos regularmente há cerca de cinco ou seis anos, tendo sido a ponte, aliás, que me levou a Carriego. Neste sentido, sim, Borges inventou Carriego, no sentido de que hoje, fora da Argentina, é bastante difícil que alguém chegue ao autor de Misas herejes senão pelas mãos de Borges. A não ser pela via do tango, já que nessa área Carriego é bastante considerado, como já falei acima.
Mas eu acho que há espaço ainda para um terceiro Carriego, independente do tango, independente do Borges, um poeta lírico que soube olhar a vida com um olhar singular, e que conseguiu transpor essa visão singular da vida e das pessoas para uma linguagem única e original. Quer me parecer que há coisas ainda a serem descobertas em Carriego, e é por isso que me dedico atualmente a estudá-lo e a traduzi-lo.
Ele é um caso único, um pioneiro, o primeiro a se preocupar com aquelas zonas suburbanas que estavam começando a nascer na América, uma espécie de Lima Barreto da poesia, com a diferença de que Carriego jamais se preocupou em representar o campo ou a cidade, quero dizer, as zonas centrais da cidade, tal como Lima também fez, mas transformou o arrabalde portenho, em especial o seu bairro de Palermo, no seu único universo.
A publicação de "Poemas Póstumos" e "A Canção do bairro" mudou em que a visão sobre Carriego?
A obra de Carriego desenvolve-se num período muito curto, não chegando talvez a dez anos. Não há registro de publicações suas em jornais e revistas antes de 1904 ou 1905. Morre em 1912. Não há tempo, portanto, para grandes mudanças. Mesmo assim a crítica percebeu, com razão, que havia duas fases bem marcadas na poesia carrieguiana.
Uma primeira, mais na linha do que no Brasil chamaríamos de poesia simbolista ou parnaso-simbolista, e que essa crítica, também acertadamente, não considera muito. Seria, em linhas gerais, uma poesia muito artificial, para não dizer falsa, sem maiores qualidades efetivamente poéticas.
A maior parte do livro Misas herejes compõe-se, de fato, de poemas dessa fase. No entanto, já aparecem nesse livro, em especial na seção “El alma del suburbio”, aquele tipo de poesia que faria a glória de Carriego, ou seja, aquela dedicada à representação dos subúrbios de Buenos Aires, do seu arrabal. Aí, sim, o poeta teria “acertado a mão”, aí começaria a sua verdadeira trajetória poética. É claro que essa visão tem lá os seus problemas, as suas falhas, mas de um modo geral ela é bastante válida.
Eu mesmo, não fosse por essa segunda fase, não estaria estudando a sua poesia. Assim que, para responder mais diretamente a sua pergunta, diria que a publicação dos Poemas póstumos veio consolidar, digamos assim, essa sua segunda e mais bem realizada fase. Não por acaso a principal seção desse segundo livro chama-se “La canción del barrio”.
Aliás, erroneamente, esse segundo livro ficou mais conhecido por esse título, que corresponde, na verdade, a apenas uma parte da obra. Mas seja como for, o certo é que todas as composições desse Poemas póstumos pertencem à segunda fase, ou seja, todos dizem respeito diretamente à recriação poética do bairro de Palermo.
terça-feira, 22 de junho de 2010
No twitter internautas lançam campanha 'Dia sem Globo'
Os internautas criaram até mesmo cartazes da campanha, que está circulando na rede social. Um deles defende “uma nova era da comunicação” e reforça a idéia do boicote à emissora. “Demonstre a sua posição participando de um dia épico no Brasil, demonstre o poder da mídia social”.
Utilizando a busca do Twitter, é possível perceber que o termo está sendo muito utilizado. Porém, não está nos Trending Topics. Numa rápida comparação entre os cinco termos que ocupam o topo da lista com o “Dia sem Globo”, nota-se que ele está sendo mais twittado que outros, como “Geisy Arruda”, que ocupa o quinto lugar na lista brasileira.
“A prova de que o twitter está nos censurando é que a campanha #DiaSemGlobo aparece em outros medidores de Trending Topics!", escreveu um usuário.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Jornalistas fazem ato pelo diploma
às 14h, na Esquina Democrática.
O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e a Regional Sul da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos) chamam os colegas profissionais, estudantes e professores de Jornalismo, a representação das mantenedoras dos cursos de jornalismo e a sociedade catarinense para um ato de desagravo à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que há um ano, em 17 de junho de 2009, decidiu que a formação superior não pode ser exigida dos jornalistas.
Mais do que um erro histórico, a decisão do STF permite o ingresso na profissão a pessoas sem qualquer noção de jornalismo, da sociedade e, especialmente, da ética profissional.
A manifestação pública de todos nós vai além do repúdio a Gilmar Mendes, relator do voto que, pela primeira vez na história de um País, entendeu que não é necessário estudar para o exercício de uma profissão complexa e importante.
O ministro Gilmar Mendes será esquecido com a poeira do tempo e os jornalistas, os estudantes, os cursos e as instituições mantenedoras e a sociedade vencerão esta batalha, trazendo de volta, através do Congresso Nacional, a necessidade da formação para o acesso ao registro profissional.
Em 17 de junho, junte-se a nós. Diga sim à formação dos jornalistas.
Ato em Florianópolis - Dia 17 de junho, das 14h às 16h, na Esquina Democrática (calçadão das ruas Felipe Schmidt e Deodoro).
Proposta de Ato nas escolas de jornalismo: 22 de junho - UFSC (Florianópolis); 23 de junho - Unisul (Palhoça); 24 de junho - Estácio de Sá (São José). (E. T.)
Encontro Erudito
Numa terça-feira de chuva, ao meio dia, um jovem casal prepara o almoço. No cardápio escolhido às pressas, está uma massa qualquer acompanhado de um molho comum, evidência da falta de tempo para algo requintado. No canto da sala atrás da porta descansa
um enorme contra baixo, que denota o grau de erudição de Fernanda Rosa e Mateus Costa, que há dois anos formam o A Corda em Si, que acaba de ser escolhido para uma turnê por 21 cidades no Circuito Catarinense de Música.
A preferência pela música erudita vem da infãncia, ela canta em coral desde os nove anos e ele toca em bandas, ao se encontrarem no curso de Música da UDESC nasceu a idéia de formarem um grupo de contra-baixo e voz. “Poucos trabalham com duetos, achamos um caso em Portugal e outro na Itália”, lembra Fernanda. Hoje nomes como Sofia Ribeiro e Rosa Passos fazem parte da influência do grupo.
O espetáculo O Som do Vazio, tem a interpretação de onze canções brasileiras, que vai de Caetano Veloso à Edu Lobo, e tem a participação do artísta plástico Roberto Gorgati que
assina o cenário com uma instalação. O emocionante show também conta com a participação da bailarina Maria Carolina Vieira e mais 11 pessoas. “Tudo é formas de preencher o vazio, os fios, a luz, o cobre, a bailarina”, explica Mateus.
Prestes a lançar o primeiro CD, o grupo planeja uma turnê pela Europa, mas por enquanto vale a apresentação dia 17 de julho no Circuito em Floripa. Contato: (48) 9113-7717.
Fita Floripa
No Centro de Cultura e Eventos da UFSC, das 18h às 20h. Gratuito. Informações: www.fitafloripa.com.br.
Grandes sucessos
A banda argentina The Beetles revive a banda britânica The Beatles. Com roupas idênticas às dos meninos de Liverpool e instrumentos originais da época, conseguem reproduzir a música e a imagem dos garotos ingleses, em suas diferentes fases (de 1962 a 1970). Este show é especial porque ocorre no dia do aniversário do baixista Paul McCartney, que completa 68 anos.
Vale ficar impressionado com a decoração da casa: pôsteres, quadros e fotos raras das lendas do rock mundial. Além do ambiente interno, que também conta com mesas e cadeiras, há o deck com vista para a paradisíaca Lagoa da Conceição. No Jhon Bull Pub., Av. das Rendeiras, 1046, lagoa. Ingresso: 1º lote R$ 20. Informações: (48) 3232-8535.
A vida como ela é
No Teatro Álvaro de Carvalho (TAC) - Rua Marechal Guilherme, 26 - Centro. às 20:30. Ingressos: R$ 30 inteira e R$ 15 meia-entrada. Informações: (48) 3028-8070.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Opção: cineclubes
Dessde que o Cineclube Nossa Senhora do Desterro, fechou em setembro de 2009, por conta das obras no CIC, à qual pertence, cinéfilos de plantão se encontram inquietos. O local era um dos principais pontos de cinema alternativo ou de filmes que não se encontram no “cinema de shopping”. De acordo com essa demanda, os cineclubes teêm tido cada vez mais visitantes e programação variada, se tornando uma ótima opção de lazer.
Os critérios para a escolha dos filmes variam, como é o caso do Cineclube Ieda Beck, administrado pela Cinemateca Catarinense, que exibiu no último dia 26 de maio uma sessão de curta-metragens com o tema “Cães”. Foram 10 produções com cães ou sobre eles, onde o participante pode opinar e sugerir com antecedência sobre as obras exibidas.
Criado em 2005, por alunos do Curso de Cinema da UFSC, o Cineclube Rogério Sganzerla, é um dos poucos criados de forma autônoma, assim como Sopão de Filmes, iniciativa de Alan Langdon e Ivan Jerônimo. Também na UFSC, o Cine Paredão, é outra iniciativa de alunos, com exibição ao ar livre.
Uma das principais dificuldades dessas inciativas é a questão financeira, mas por outro lado gozam de liberdade para escolher a programação.
Cineclubes apoiados por instituições governamentais não tem esse problema, como o Cinearth, ligado a UDESC e o Cineclube Aliança Francesa, que pertence a Fundação BADESC. O Cineclube Ieda Beck recebe por mês R$ 1.700,00 do Fundo Municipal de Cinema. O mesmo ocorre com o CineCélula, da tradicional casa do rock no bairro João Paulo.
A força dos Cineclubes é tamanha que até a iniciativa privada tem planos na área. É o caso do Paradigma CineArte, que esta previsto para ser inaugurado em 11 de junho no Centro Empresarial Corporate Park, na SC 401. Para o estudante Jaime Machado, freqüentador de cineclubes, o público desses locais é mais comprometido. “É bom ver um filme sem celulares ou concurso de tosse”, brinca.
Filmes para crianças e adolescentes começam dia 14 no FAM
Histórias como essas estarão nas telas da Mostra Infanto-juvenil do 14º Florianópolis Audiovisual Mercosul - FAM2010. A mostra começa nesta segunda-feira, de graça, a partir das 9h, no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Não é necessário pegar senha. Entre os 21 filmes que serão exibidos para o público infantil e juvenil até a próxima quinta-feira, dia 17, estão produções em animação, ficção e documentário de Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Sergipe, Paraná, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Chile.
São 15 títulos em animação, sendo três produzidos coletivamente pelo Laboratório de Pesquisa em Imagem e Som da UFSC, Seca na Mesopotâmia, Lusitânia: histórias de guerra, contos do mar, e A barragem. Entre os destaques, está o único filme estrangeiro da mostra, a animação chilena El rey de las flores, de Vivienne Barry (foto).
Crianças a partir dos seis anos poderão curtir a antiga canção popular do cubano Silvio Rodriguez, recuperada especialmente para o filme com novo arranjo musical e texto adaptado. O diretor Alê Camargo, ganhador do prêmio de Melhor Vídeo de Animação do FAM 2009 por A Ilha, apresenta um novo filme, Aziz, baseado no conto de mesmo nome de Hovhannes Tumanian.
O filme é sobre a promessa que um filho de caráter duvidoso faz ao pai, que está morrendo. Realizado pela Ozi Escola de Audiovisual de Brasília, foi selecionado para a próxima edição do AnimaMundi, em julho. O único documentário da mostra, Brincantes, de Elisandro Dalcin e Nélio Spréa, do Paraná, faz um recorte do tempo mais precioso do dia numa escola: o recreio.
Durante os quatro dias da Mostra Infanto-juvenil, cerca de 3.000 crianças de escolas da Grande Florianópolis vão assistir aos filmes do festival em excursões escolares. A Panvision, organizadora do FAM, fez uma parceria com o Instituto Lagoa Social, que responde pela logística do transporte dos alunos. Serão 14 ônibus por dia, cedidos pela Udesc, chegando para as sessões às 9 e 14 horas. No ano passado, a mostra recebeu mais de 2 mil alunos.
O 14º Florianópolis Audiovisual Mercosul - FAM2010 ocorre de 11 a 18 de junho, no auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos, no auditório da Reitoria e no Teatro, na UFSC. Todas as sessões para as mais de 140 produções do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Colômbia, Uruguai, Cuba e Espanha são gratuitas.
A programação completa das mostras e eventos paralelos está no: http://www.audiovisualmercosul.com.br.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Música erudita com eletrônica
Com o espetáculo “Da música erudita à eletrônica” vai reunir grandes nomes da música clássica e eletrônica catarinense, com renome nacional, como a Camerata de Florianópolis, sob a regência do maestro Jeferson Della Rocca; a maestrina e soprano Rute Gleber; o pianista Alberto Andrés Heller e o Daniel Kuhnen.
O grande destaque desta edição fica por conta da mistura inovadora entre o clássico e o contemporâneo. Quem abre o espetáculo, às 21h, é a Orquestra Camerata de Florianópolis com os inesquecíveis poemas de Cecília Meireles, todos compostos e arranjados pelo pianista Alberto André Heller, renomado músico e compositor.
A regência fica por conta do maestro Jeferson Della Roca, fundador da Camerata. “A experiência é bastante inusitada e o resultado promete ser muito empolgante tanto para nós quanto para o público”, comenta o maestro que depois de reger os poemas de Cecília Meireles terá a responsabilidade de conduzir a orquestra nas composições de Villa-Lobos, um dos maiores artistas das Américas.
Rute Gleber, criadora e solista dos espetáculos “Vozes da Primavera”, será a segunda grande atração da noite. Ela que já foi até enredo de escola de samba vai interpretar, acompanhada da Camerata, a canção “Quem Sabe”, de Carlos Gomes.
A mistura entre o clássico e o contemporâneo tem início com a entrada da guitarra elétrica e do baixo em cena, instrumentos que vão se fundir ao som das mais de 20 cordas de violinos, violas, violoncelos e contra baixos da Camerata de Florianópolis, em uma música inédita que vai do erudito ao pop passando pelo jazz.
Em seguida, o Daniel Kuhnen que embarca para uma turnê de música eletrônica um dia após o Acústico Brognoli começa a sua apresentação com um solo da House Music, sua especialidade e, logo depois, junta-se ao piano, ao baixo e a guitarra para tocar “Trenzinho Caipira”, de Villa-Lobos.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Ensaio Fotográfico - Lara Montechio
Quando a Bienal de Arte de São Paulo abrir em outubro, com um andar inteiro reservado para grafites e pichações, a perspectiva que se terá dessas manifestações será outra. Diferente do ocorrido em 2008, quando a Bienal foi invadida por pichações, a curadoria desta edição abriu espaço para essa arte que há muito tem gritado nas ruas.
Em Florianópolis, já é tamanha a aceitação dessas manifestações que empreendimentos, espaços públicos e até mesmo algumas residências tem autorizado, ou contratado artistas para ocupar seus muros e paredes. Aos poucos vão surgindo os best sellers da cena, como os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, que vendem suas peças por até US$ 100 mil, e que começaram pintando muros em São Paulo.
Se toda essa tolerância com a arte marginal provoca horror em alguns, certamente acrescenta à chamada “crise da arte”, discutida a alguns anos. Mas para alguns ter um grafite no muro é puramente estratégia para evitar pichações, pois de acordo com a lei da selva das ruas não se deve “atropelar”o trabalho de outros.
Resta saber até quando essa regra vai ser mantida. Neste ensaio fotográfico, assinado por Lara Montechio, localizamos as pichações e grafites mais interessantes da cidade.
Renato Russo 50 anos
Manter viva toda a importância e a obra do Legião Urbana, é o que pretende a banda Legião Urbana Cover de Curitiba, que nesta sexta-feira, dia 10/06, apresenta um show em comemoração aos 50 anos do ídolo Renato Russo. A banda que é considerada uma das melhores do país, se apresenta pela segunda vez em Floripa, desta vez no Célula Cultural, no bairro João Paulo.
O sósia Miro Penna apresentará todas as performances e energia que Renato Russo passava nos shows, Miro é um estudioso da obra de Renato Russo e além da aparência física, a voz é muito semelhante a do cantor. No intervalo haverá sorteio de brindes pela Roots Records.
A Legião Urbana foi uma das bandas mais influentes, principalmente para os jovens, dos anos 80 e 90, com mais de 20 milhões de discos vendidos. Foram 14 anos de atuação nos palcos fazendo muito sucesso com um grande diferencial nas letras marcantes com críticas da sociedade brasileira que são cantadas até hoje pelo público. Infelizmente o grupo acabou após a morte do vocalista Renato Russo, que neste ano completaria 50 anos, deixando a saudade para milhares de fãs.
Os 200 primeiros ingressos custam R$ 20 e demias R$ 25. Informações: 3348-1590.
Vale Abraão
A mostra é uma atividade de caráter didático-cultural, realizada pelo Departamento Artístico Cultural da UFSC.
O filme será exibido em DVD, utilizando projetor de alta resolução e uma tela apropriada para projeção, equipamentos especialmente instalados para esse fim no teatro da universidade.
Criado a partir do romance Vale Abraão, de Agustina Bessa-Luís, o filme conta a história de Ema, é uma mulher de beleza ameaçadora. Para o marido, Carlos - com quem casou sem amor – “um rosto como o seu pode justificar a vida de um homem”. O gosto do luxo, as ilusões que assume, o desejo que inspira aos homens, vale-lhe a epíteto de “A Bovarinha”.
Conhecerá três amantes, mas esses amores sucessivos não conseguem suster um crescente sentimento de desilusão, que a leva a definir-se como “um estado de alma em balouço”. Ema morrerá - acidentalmente? Quem sabe? - num dia de sol radioso, depois de se ter vestido como se fosse para ir a um baile.
Veja na página do DAC (www.dac.ufsc.br) o link do blog onde estão publicados os nomes e as sinopses de todos os filmes da mostra.
O disco que virou filme
O filme programado para a próxima quinta-feira, dia 10 de junho, dentro do Projeto Cinema Falado é Pink Floyd - The Wall, do diretor britânico Alan Parker. Produzido no ano de 1982, seu roteiro foi escrito pelo então vocalista e baixista da banda, Roger Waters que, apesar de cogitar ser o protagonista do filme, interpretando ele mesmo, desistiu da empreitada e contratou o ator Bob Geldof para o papel.
O mediador convidado é Gustavo Estivalet, estudante do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC.
The Wall conta a história de um rapaz chamado "Pink" que perdeu o pai na 2ª Guerra Mundial quando era criança. Como consequência, desenvolve uma relação muito estreita com a mãe, superprotetora, que escolhe desde as roupas até suas namoradas. Problemático na escola, com poucos amigos, tornou-se numa estrela de rock e se casou com uma atraente acompanhante do grupo.
No entanto a sua vida é completamente vazia e, durante uma alucinação causada pelas drogas, se imagina líder de um grupo neonazista que comanda a platéia "contra o muro" durante seus shows.
Duas cenas marcantes no filme retratam a guerra. A primeira com imagens de aviões em pleno voo, formando cruzes no céu, representando as inúmeras mortes decorrentes daquele conflito. A segunda, na brincadeira das crianças no trilho, onde Pink vê o rosto de pessoas em um trem onde todos são iguais.
Uma alusão a como eram vistas as pessoas nos trens que iam para os campos de concentração, ou seja, seres sem rosto, sem nome, sem identificação. Para os nazistas, uma raça inferior.
O filme é encarado por muitos críticos como um mega videoclipe, já que apenas duas das músicas que existem no disco não foram para o filme.
Outros já o classificam como um musical, embora as músicas não sejam executadas diretamente no filme. O fato é que há poucas falas em The Wall, sendo que a maior parte do filme é composta apenas de músicas de fundo, interpretadas ou em animações. Por fim, mesmo que Waters não tenha gostado muito do resultado do filme, o público sim. The Wall obteve relativo sucesso de público e de crítica, e depois ganhou status de filme cult.
A sessão do Pink Floyd - The Wall começa às 18h30min, na Sala Multiuso do Museu Victor Meirelles. A entrada é gratuita no projeto Cinema Falado. Rua Victor Meirelles, 59 – Centro – Florianópolis/SC. Informações: 48 3222-0692
Cineclube Ieda Beck
O Cineclube Ieda Beck apresenta dia 09/06, um documentário longa-metragem que revela histórias e relatos de vida emocionantes. Câncer: sem medo da palavra, uma parceria do psicólogo Sílvio Iensen e do diretor Luiz Alberto Cassol (foto), apresenta depoimentos de familiares e de pessoas que fazem e fizeram o tratamento para o Câncer bem como de profissionais da saúde especialistas na área.
O filme teve seu roteiro desenvolvido a partir da constatação do medo e do preconceito que envolvem a doença e muitas vezes a própria palavra câncer.
O filme de 2009, com duração de 70 minutos, aborda como as pessoas superam esse preconceito, buscam o tratamento e a cura.
O Cineclube funciona no Instituto Arco-Íris, Travessa Ractclif, 56, próximo ao terminal antigo de ônibus. A sessão começa ás 19 hs com entrada franca e livre.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Ballet Imperial da Rússia
Uma das mais conhecidas e respeitadas companhias de balé do mundo vem a Florianópolis para apresentar as coreografias de Romeu e Julieta e Dom Quixote.
O grupo junta os mais renomados bailarinos do país para criar um núcleo de virtuosismo que viaja pelo mundo para mostrar as tradicionais coreografias do balé da Rússia, um dos países de maior cultura do dança.
É dia 3 de junho no Teatro Teatro Pedro Ivo. Informações: (48) 3206-5559.
Fogo de Truffaut
Fahrenheit 451, François Truffaut - 1966, se passa num futuro hipotético. Montag (foto) é um bombeiro, em uma sociedade totalitária que tem como principal proibição a leitura de livros, sob a perspectiva de que eles deixam as pessoas infelizes.
Após iniciar conversas e questionamentos com a subversiva Clarisse (foto), Montag começa a se transformar em um leitor e a partir daí sua visão de mundo muda.
A grande fábula da obra é o fato de a sociedade se dividir em quem lê e em quem não lê, que transcende a visão de manipulação não só de idéias, mas principalmente de pensamentos.
O filme será exibido dia 9 de junho no Cine Célula. Informações: (48) 8416-9900.
Semana Cultural de Santo Antônio de Lisboa
De 2 a 13 de junho ocorre a Semana Cultural de Santo Antonio de Lisboa, que irá promover nas praças e espaços do tradicional bairro: missas, encontro de corais, lançamentos de livros, varal literário, cinema, contação de história, festival gastronômico e show musical.
A semana é organizada pela Associação de Moradores do Bairro e Irmandade do Divino Espírito Santo, uma vez que a semana também comemora o dia do Santo Antônio de Lisboa, em 13 de junho.
Este ano entre os nomes da programação está o do escritor Paulo Markun, que mora no bairro e aproveita para lançar seu livro, Cabeza de Boi, pela Companhia das Letras. O livro conta a história de Dom Álvar Núñez Cabeza de Vaca, um desbravador espanhol do século XVI que, entre outras mil aventuras, foi o primeiro governador de Santa Catarina e percorreu grande parte das Américas.
Informações: 3235-2572.
Programação completa:
19h – Abertura. Mario Moita - Fados ao Piano. Igreja Nossa Senhora das Necessidades
Dia 3 (quinta-feira)
09h30 - Missa e Procissão de Corpus Christi. Igreja Nossa Senhora das Necessidades.
16h - Varal Literário, Recitação de Poesias, Contação de História - Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses. Sessão de autógrafos do livro “Viagem” do músico português Augusto de Abreu. Feira das Alfaias.
Dia 4 (sexta-feira)
20h30 - Encontro de Corais. Apresentação dos corais de Santo Antônio de Lisboa, do Tribunal de Contas, da UFSC e do Hospital Florianópolis. Igreja Nossa Senhora das Necessidades.
Dia 5 (sábado)
15.00 h – Lançamentos: II Concurso de Contos e Poesias, revista "Cadernos da trilha" (Rosana Bond) e o livro “Brincadeiras Infantis na Ilha de Santa Catarina” (Telma Piacentini). Bate-papo com escritores. Espaço Literário “Óptica Brasil”.
16h - Coral Escola (Fundação Franklin Cascaes). Feira das Alfaias.
17h - Show “Joana, violão e voz”. Feira das Alfaias.
21h - Forró do Peixe-Frito – Bandas ERVA RASTEIRA e GUAYPECA. Clube Avante.
Dia 6 (domingo)
16h - Caldos e Causos de Santo Antônio. Com Causos do Francolino. Causos cantados com Marcoliva e participação da comunidade. Feira das Alfaias.
Dia 7 (segunda-feira)
20h - Cinema na Comunidade – Apresentação de filme e debate com o cineasta Chico Faganello. Salão Paroquial.
20h - Exposição Coletiva “Arte em Santo Antônio de Lisboa”. Neri Andrade, Elias Andrade, Nelson Teixeira, Netto, Teresa Heil, José Pedro Heil, Tércio da Gama e Janga. Espaço de Arte “Nelson Teixeira Netto”.
Dia 11 (sexta-feira)
18h30 - Missa e Procissão - Translado da imagem de Santo Antônio para a Igreja. Participação da Banda Comercial.
20h - Show musical “Anos 60 e 70”. Pátio da Igreja.
21h - Apresentação de Boi de Mamão da ABS. Pátio da Igreja.
22h - Forró com Joana Cabral e Banda. Pátio da Igreja.
23h - Show com a Banda Gente da Terra. Pátio da Igreja.
9h30 - Missa com divulgação do novo casal festeiro.
15.30 h Show musical Cirandar com grupo "Roda viva". Feira das Alfaias.
Invasão da UDESC
Na última segunda-feira (31/05) estudantes da UDESC, que protestavam contra o novo aumento da passagem de ônibus em frente a universidade, foram surpreendidos pela forte repressão por parte dos homens da Polícia Militar, sob o comendo do tenente coronel Newton Ramlow. Além de agressões e espancamentos, os homens da polícia militar invadiram o campus da UDESC, com pistolas de tiro elétrico, gás de pimenta para prender estudantes, numa cena vista nem nos tempos da ditadura.
Vídeos da invasão no Youtube:
Vídeo um
Vídeo dois
Em nota divulgada hoje, a Associação dos Professores da UDESC, repudia a atitude da polícia e cobra um posicionamento por parte da Reitoria da universidade, o que ainda não acorreu. Acompanhe a seguir o conteúdo da nota.
NOTA DE REPÚDIO À INVASÃO DA UDESC PELA POLÍCIA
Na noite de 31 de maio, frente a uma manifestação de estudantes na entrada principal do campus da UDESC no Itacorubi, contrária ao aumento das tarifas de ônibus urbanos na capital, uma ação da Polícia Militar, sob o comando do tenente-coronel Newton Ramlow, resultou na agressão, no espancamento e na detenção de pessoas, com invasão do campus da UDESC.
Apesar da alegação de "garantia da ordem e do direito de ir e vir dos cidadãos", o aparato policial, paradoxalmente, prejudicou o fluxo de veículos, confinou os estudantes dentro do campus e promoveu uma sucessão de atos de violência e brutalidade. Policiais armados de cassetetes, arma taser, gás pimenta e cães criaram um confronto desigual e inadmissível em contraste com os manifestantes, que promoviam uma passeata pacífica, fundamentada em uma postura de cidadania legítima e coerente com o que se espera de acadêmicos críticos e preocupados com os problemas da cidade em que vivem, entre eles, o estado vergonhoso do transporte coletivo de Florianópolis.
Este lamentável acontecimento foi presenciado por vários professores, que tentaram inutilmente mediar a situação, cujas consequências podiam ser visibilizadas no terror dos estudantes acuados, temerosos diante da truculência dos policiais envolvidos.
A ADFAED - Associação dos Docentes da FAED e a APRUDESC - Associação dos Professores da UDESC consideram que o acontecido envolveu uma dupla violência: contra os manifestantes e seus direitos de livre expressão e associação, e contra a Universidade, cujo dever é justamente o de promover o debate, a reflexão, a crítica e o respeito aos direitos civis.
Repudiamos, portanto, a invasão do campus da UDESC pela polícia militar bem como as agressões cometidas contra os estudantes, e exigimos que as autoridades competentes atentem a seus deveres constitucionais, como requer um Estado democrático e de direito.
Ilha de Santa Catarina, 1 de junho de 2010.
ADFAED e APRUDESC
terça-feira, 1 de junho de 2010
Walter Benjamin revisto
Dia 14 de junho o Museu Victor Meirelles e a Fundação Joaquim Nabuco, ligada ao Ministério da Educação, realizam a oficina “Walter Benjamin: crítica da cultura e modernidade”, com o professor doutor Lucianno Gatti da Universidade Federal de São Paulo.
Nascido em Berlim, Alemanha, Walter Benjamin (1892-1940), tem uma vasta obra, que vai da filosofia à crítica da cultura e história da arte. A oficina pretende reconstituir o percurso intelectual de Benjamin a fim de explorar sua reflexão sobre a arte e sobre a cultura das primeiras décadas do século XX.
Crítico próximo dos debates artísticos mais relevantes da época, Benjamin dedicouse tanto a autores importantes como Franz Kafka, Marcel Proust e Bertolt Brecht quanto a avaliar as mudanças na experiência estética provocadas pelo surgimento da fotografia e do cinema.
A escolha do professor Luciano Ferreira Gatti, do curso de Filosofia da UFSP, e proposital, pois ele é autor do livro “Constelações. Crítica e verdade em Benjamin e Adorno” (Loyola, 2009). Além de possuir graduação em Filosofia, Direito, mestrado e doutorado em Filosofia e pesquisa de pósdoutorado na PUC/SP e na New School for Social Research, NY. O curso ocorre junto com o lançamento do III Concurso Mário Pedrosa de Ensaios sobre Arte e Cultura Contemporânea.